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Eleições no Distrito: seguiremos mais uma vez pelo caminho da direita?

Michelle Fernandez e Graziella Testa 

 

O Distrito Federal, assim como as outras 26 unidades da federação, elegerá governador no próximo mês de outubro. No entanto, as eleições no DF possuem peculiaridades e dinâmicas próprias. Por esse motivo, devemos olhar com atenção para o processo eleitoral na capital do país e tentar entendê-lo a partir das suas peculiaridades.

 

O DF alcançou sua independência político-administrativa no início da década de 1990. Portanto, é uma unidade da federação que possui um histórico de processos político-eleitorais muito recente. Desde então, os eleitores do Distrito Federal elegem o governador distrital, na mesma eleição dos governadores de estados. Outra peculiaridade do processo eleitoral do Distrito Federal é que não há eleições para prefeitos e vereadores. O Distrito é dividido em regiões administrativas e cada uma delas tem um administrador regional que é indicado pelo governador. Na prática, o governador do DF é responsável pelas funções que nas outras unidades da federação são divididas entre prefeito e governador. Como o DF não está dividido em municípios, seus eleitores vão às urnas apenas a cada 4 anos para eleger o governador e os deputados distritais. O único território que, como o DF, não vota nas eleições municipais é o Distrito Estadual de Fernando de Noronha.

 

Ao longo de pouco mais de 30 anos, entre 1990 e 2022, o DF teve 6 governadores eleitos. Desses, apenas Joaquim Roriz (antigo PMDB) foi governador mais de uma vez (1991-1995; 1999-2003; 2003-2006). Antes de ser eleito, Roriz foi ainda governador biônico de 1988 a 1990. Portanto, reeleger-se no Distrito Federal não é a regra, é exceção. Isso mostra o cenário desafiador que hipoteticamente supõe reeleger-se no Distrito Federal. No entanto, parece ser que o atual governador tem muitas chances de ganhar novamente as eleições e continuar ocupando o Palácio do Buriti por mais 4 anos.

 

Ibaneis Rocha (MDB) é um dos frutos da onda da nova política de 2018. Sem histórico político-partidário, o advogado se elegeu com auxílio de recursos próprios e da onda bolsonarista. A despeito de não se colocar como apoiador direto, não se contrapõe ao Presidente da República e, inclusive, sinaliza apoio em muitas ocasiões. Podemos afirmar, inclusive, que se estabeleceu entre o governador do Distrito Federal e o presidente da República uma relação de apoio mútuo não explícita. Algumas ações sinalizam essa relação de apoio mútuo entre Bolsonaro e Ibanez: desde as decisões tomadas na mesma direção durante a pandemia da COVID-19 até o apoio recíproco à candidatura de ambos no processo eleitoral de 2022. Nesse sentido, podemos afirmar que o Ibaneis é o candidato bolsonarista na disputa pelo GDF. Nesse sentido, o Distrito Federal é uma unidade da federação que, sob o comando do governador Ibanês Rocha, está alinhada ao Governo do presidente Bolsonaro.

 

Para concorrer ao GDF, além de Ibaneis Rocha, foram apresentadas outras 10 candidaturas. Temos entre o centro e a direita do espectro ideológico a Paulo Octávio (PSD), Izalci (PSDB), Coronel Moreno (PTB) e Lucas Salles (Democracia Cristã – DC). Já no espectro entre o centro e a esquerda estão Leandro Grass (PV), Leila Barros (PDT), Keka Bagno (PSOL), Renan Arruda (PCO), Robson da Silva (PSTU) e Teodoro da Cruz (PCB). O ex-secretário de educação do governo Bolsonaro, Rafael Parente (PSB), desistiu de concorrer ao GDF em 25 de agosto.

 

No campo da direita, temos diferentes forças políticas atuando na disputa pelo GDF. O ex-vice-governador Paulo Octávio (PSD) apresentou sua candidatura nos últimos momentos do prazo regulamentário e já ocupa a segunda posição nas pesquisas de intenção de voto. Paulo Octávio se apresenta como herdeiro político de Juscelino Kubichek e é casado com a neta do ilustre ex-presidente, Anna Christina Kubitschek. O empresário é dono de três estações de rádio e de 50% do conglomerado Diários Associados, grupo que comanda o Correio Braziliense, principal jornal local. Dono também de inúmeros edifícios, pelo menos cinco shoppings e seis hotéis, o patrimônio declarado por Paulo Octávio à Justiça Eleitoral é de R$618 milhões.

 

Izalci Lucas é o candidato pelo PSDB na disputa. Membro do PSDB desde 1998, o Senador está no meio do mandato, naquela situação que não tem nada a perder com a candidatura. Foi destaque no início do mandato por ter o maior número de funcionários comissionados de toda a Casa. O Senador pôde concorrer após conseguir a anulação de uma condenação por peculato. Izalci Lucas foi acusado de desviar computadores e equipamentos de informática do GDF, quando ocupava o cargo de secretário de Ciência e Tecnologia, para utilizá-los em sua campanha eleitoral de 2010. Caso eleito, Izalci deixaria a vaga no Senado para seu primeiro suplente, Felipe Belmonte, empresário e marido da deputada Paula Belmonte. Felipe, por sua vez, é candidato a vice-governador na chapa de Paulo Octávio.

 

Uma outra variável importante para entender as disputas ao GDF no campo da direita é o papel dos Arruda no cenário político local. Apesar de não serem candidatos ao Governo do Distrito Federal, a família Arruda vem ocupando espaço nesse cenário eleitoral por meio do apoio ao governador Ibaneis. A deputada e ex-ministra Flávia Arruda (PL) será candidata ao Senado. A candidatura de Flávia Arruda foi fruto de um acordo para proteger a reeleição do Ibaneis, que poderia ser ameaçado por uma candidatura da deputada para o GDF.

 

O campo da esquerda, no entanto, está bastante pulverizado. Leandro Grass (PV), Leila Barros (PDT) e, com menor expressão, Keka Bagno (PSOL) disputam o eleitorado mais progressista e que deseja uma oposição ao Ibaneis no DF. A federação PT/PV/PCdoB escolheu como candidato ao governo do DF o jovem Deputado Distrital Leandro Grass. Cientista social e professor, teve atuação consistente na Câmara Legislativa, mas segue como um nome pouco conhecido no DF. O deputado se elegeu pela REDE e mudou para o PV na última janela de troca partidária. Antes disso, havia ainda sido filiado ao PSB, mas não tem passado algum ligado ao Partido dos Trabalhadores no DF. Além da agenda de educação, Grass assume publicamente posição sobre pautas progressistas e espinhosas. Foi responsável, por exemplo, por promover um seminário sobre cannabis medicinal e o cânhamo industrial na CLDF. Se a força eleitoral do ex-presidente Lula se mantiver até outubro, a candidatura de Leandro Grass tem potencial de crescimento e de ser o símbolo da redefinição do campo da esquerda. No entanto, de acordo com a velocidade de crescimento que Grass vem apresentando nas pesquisas até o momento, parece ser que o impulso da figura do ex-presidente Lula a sua campanha não será suficiente para levá-lo ao segundo turno.

 

Leila Barros (PDT), ou Leila do Vôlei, é outro nome importante na disputa pelo Buriti. Leila é senadora em meio ao mandato. A ex-jogadora da seleção feminina de vôlei foi a primeira senadora eleita pelo DF. Conquistou, em 2018, 18% dos votos e desbancou políticos veteranos, como o ex-governador do DF e ex-ministro da educação Cristovam Buarque. Nas eleições de 2014, candidatou-se a uma vaga na Câmara Legislativa do DF e se elegeu suplente, com 11 mil votos. Em 2015, foi convidada pelo então governador Rodrigo Rollemberg (PSB) para atuar na Secretaria de Esporte e Lazer. Leila posiciona-se como uma opção para o eleitor mais progressista do Distrito Federal. No entanto, assim como acontece com Grass, o percentual de intenções de votos que apresenta até agora não a levaria para um segundo turno na corrida eleitoral pelo Buriti.

 

O cenário eleitoral até o momento nos leva a crer que teremos uma liderança de direita ocupando o Governo do Distrito Federal pelos próximos quatro anos. Nas pesquisas de intenção de votos, Ibaneis e Paulo Octávio aparecem na dianteira na corrida eleitoral. Além disso, nas últimas semanas, tem crescido o percentual de intenção de votos do Governador Ibaneis. Nesse sentido, inclusive, existe a possibilidade de reeleição do governador ainda em primeiro turno. Assim, no DF, parece ser que a cadeira do governador não receberá novo inquilino.

 

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Michelle Fernandez
Doutora em ciência política pela Universidade de Salamanca e pesquisadora do Instituto de Ciência Política da UnB. É pesquisadora no Núcleo de Estudos da Burocracia da FGV. Estuda temas relacionados à atuação do Estado e a políticas públicas, com foco nas políticas sociais.<br />
Graziella Testa
Doutora em ciência política pela USP e professora da Escola de Políticas Públicas e Governo da FGV. É especialista em estudos legislativos, com foco em processos legislativos e instituições informais.<br /> <br />